domingo, 12 de dezembro de 2010

A vossa prenda de Natal

Olá. Tenho estado calado, porque agora tento falar menos. Tento sinceramente estar ao teu lado e ouvir-te, alma irmã minha. Sei que talvez não estejas habituada, afinal todos berram a sua história vencedora, é normal que olhes com estranheza quando alguém não te tenta furar os tímpanos. Sei que por vezes sou muito estranho. Poderás conhecer-me faz muitos anos e continuar a achar isso. Poderás conhecer-me faz pouco tempo e achar que me conheces a tua vida toda. Eu tanto sinto um como outro.

Este ano, que do meu silêncio me apontaste esses factos identificadores da minha história perante vós, vou-te contar o porquê e no fim vais-me permitir a partilha do motiv.

Toda a história tem um começo e este é um deles. Sei que nasci dividido e esse signo, tanto estelar quando mundano, sempre marcou o meu saborear deste mundo. Nasci no meio da luta de classes, dos pobres a tentarem roubar aos ricos. Devo ter ouvido muita música revolucionária enquanto esteva na barriga da minha mãe, porque apesar de ter nascido após o 25 de Abril, choro de emoção profunda sempre que ouço a Grândola. A minha mãe não pôde ficar comigo até aos 3 anos por causa de um acidente e até essa altura, fui criado pela minha avó em Lisboa. Lembro-me do cheiro a relva da Gulbenkian, do Sol que me acarinhava e dos pássaros. Aos 3 anos, fui para a minha mãe e saí de Lisboa para ir para uma aldeia do interior profundo, onde nem sequer chegava estrada de alcatrão. O meu pai era louco, a minha mãe divorciada e eu nem sequer era baptizado. Sei hoje que se formava pacientemente um caldo grosso de tubérculos diferentes, de onde havia de sair eu. Foram os tempos do gulag e apesar do nome que lhe davam, vivia-se muito bem por lá. Quando era pequeno lia imenso, tudo o que apanhava, como folhas de outono a passarem por dentro de mim. A minha personalidade sempre foi de extremos, exacerbada pelas mudanças, educações diferentes, natureza circundante e falta de alguém cujo modelo substituto apenas conheci nos primeiros 10 anos da minha vida (e que modelo era!!!). Os meus outros modelos eram por isso heróis, personalidades famosas e reis. Talvez por isso me tenha sentido um principezinho durante alguns anos. Depois o caldo que eu era foi atirado ao chão sujo, ainda bem porque é sempre preciso uma boa dose de porcaria para criar um homem. E eu lá me fui criando...

Sou...reunião de muitos pensamentos, alguns aéreos outros castanhos da terra, alguns outros cheios de azul do mar. Prefiro afirmar-te que tento ser bom, porque sei o que mais conta. Por vezes sou eu, outras o teu espelho. Ás vezes vais-me partir e até odiar; posso ser aquela tua consciência que não querias mesmo ouvir. Outras, olharás para mim e perceberás que acabei de dizer um chorrilho de disparates incomensuráveis; mas que tu na verdade me dás importância por aqueles outros momentos em que sabes que o meu ser acabou de transformar o teu, para sempre.

Este Natal, não falo do que aprendi contigo. Ofereço-te o meu silêncio contemplativo, dou-te o seu reflexo e convido-te com um sorriso a fazeres o mesmo.

Dou-te um primeiro capitulo do meu livro de vida e convido-te a escrever um comigo.

Sou todo teu, amigo meu.

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