quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Olá José

Este texto brota de mim como chá; tenho de o fazer bem quente; não esperar para que enfranqueça mas fazer com que fortaleça...

Olá José. Desculpa tratar-te assim. Não te conhecia mas depois daquilo, foi como se tivesse passado duas horas a falar contigo, na biblioteca ou no pátio. Ás vezes no silêncio dos teus olhos, ás vezes com Pilar sobre o teu ombro. Em português mas acima de tudo no itenso palavrear dos nossos gestos, olhares e suspiros.
Para alguém que falava tanto, a forma como falavas de boca fechada era de uma placidez e contemplação muito doce. Quando percebi isso e olhei para que o olhavas percebi. Sabes, uma das coisas que mais me tocou nesta nossa conversa foi teres mostrado, pela repetição das vezes que a chamaste, que estavas diferente. Que algo em ti tinha mudado. Sei hoje o quê.

Na verdade, fui visionante perfeito. Não te conhecia a não ser por noticias, nunca li nada teu apesar de ter vários textos; deixo-os a olhar para mim na estante, filhos órfãos que eu ainda não tive a força de adoptar no meu coração. Fazias-me confusão por vezes e devo dizer que quando ralhavas de alto sobre a nossa queda e iniquidade, deixava de te ouvir. Eu sou de sabores e faz muito tempo, comprei um livro teu. Por alguma razão, não o li logo e foi quando vi uma noticia qualquer onde ralhavas que decidi não te ler. Não agora, mais tarde pensei eu...e esse tempo foi passando e passando, até que um dia por acaso ouvi o Miguel a falar de ti. Sabes, foi da emoção dele a falar de ti, que eu decidi ouvir-te outra vez.

Se o José tocou esta pessoa a ponto de ela passar quatro longos anos da sua vida com ele, a bater a tantas portas e a fazer o que nós fazemos melhor (conseguir tudo contra todos) eu tenho de lhe dar uma oportunidade, senti...

Dizer que sou daqui, que não te li e que tenho livros teus é louco, sim confesso. Eu...pressenti que ias ter impacto em mim e por vezes existem seres humanos que podem ser bebidos dos seus livros e...eu não te ia deixar entrar dentro de mim, não com a mágoa que nos tinhas. Não o podia permitir. Vais-me desculpar, seria como deixar entrar as prendas, sem acreditar no pai natal. E eu acredito nesse espírito.

Faltava-te o perdão. O perdão que se tem aos filhos traquinas, aos que não conseguem fazer melhor. Essa tua dimensão humana, eu desconhecia. Agora passei a conhecer e finalmente vou poder ler a história do elefante com as patas cortadas e tantas outras.

Vou fazer mais. Vou comprar dois bilhetes para o teu filme e dá-los a alguém. Se for preciso, vou para a porta do cinema e quando alguém quiser comprar bilhetes para outro filme, vou-lhos dar. Quando alguém os aceitar, vou-lhe pedir que faça o mesmo...

Adeus. Já te sinto a falta José...

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