domingo, 24 de janeiro de 2010

O Amor é uma commodity

Este texto persegue-me faz semanas. Eu, que não gosto de me sentir intranquilo e prendedor do que quero que seja livre, aqui o despojo. Nunca o alterei, nunca o voltei a ler, mas estranhamente voltava a mim de vez em quando, como a onda na praia, vermelha do sentimento poderoso. Vai-te, essa estrada longa e escura por onde queres ir chama-te e eu quero que vás! Desaparece e rápido porque dentro de mim já não há espaço para ti! Não quero que haja espaço para ti...

Commodity, i.e. é um termo que significa mercadoria, é utilizado nas transacções comerciais de produtos de origem primária nas bolsas de mercadorias. Usada como referência aos produtos de base em estado bruto (matérias-primas) ou com pequeno grau de industrialização, de qualidade quase uniforme, produzidos em grandes quantidades e por diferentes produtores. O que torna os produtos de base muito importantes na economia é o fato de que, embora sejam mercadorias primárias, possuem cotação e "negociabilidade" globais; portanto, as oscilações nas cotações destes produtos de base têm impacto significativo nos fluxos financeiros mundiais, podendo causar perdas a agentes económicos e até mesmo a países.

O Amor é uma commodity. Na verdade, nós somos todos commodities e como tal transaccionáveis. Consumidores finais cujas decisões finalísticas decidem o futuro de tudo, seja marca, letra de nova canção ou futuro politico de nações. Se tudo economicámos e transaccionamos, porque não o nosso maior bem, o Amor?

Eu represento uma certa pessoa, com um certo status social, uma certa conta bancária, uma certa idade, uma certa educação, um certo plano de vida. Na velocidade à qual marcamos a nossa vida, a maioria das pessoas deixou de efectivamente ser, para passar a ser o que o mercado quer que sejamos. Commodities.
Não temos tempo para o sentir, para o pensar, para entregar algo que já cá deixou de morar. Em vez disso transaccionamos. É mais rápido, é mais simples e na verdade já o fazemos faz muitos, muitos anos. Simplesmente, agora é oficial.

Cada ser humano tem o seu valor nesta bolsa do amor, com os maiores a serem os mais belos, os com mais dinheiro, os que de alguma forma são o sonho. Todos queremos ser milionários não? Quem decidiu o valor a atribuir? Fomos nós, mais ninguém. Com base nos valores que agora são os nossos deuses. Poder. Dinheiro. Juventude.

Então, jogamos nesta nossa bolsa, apostamos num ou noutro candidato-empresa-bem e esperamos que o negócio floresça a 100%, a 200% e a 300%...o tempo é curto e não o podemos perder com companhias...desculpem candidatos que não mostrarem evolução trimestral nos lucros que têm de nos trazer.

Quando nos fartamos, mudamos o nosso investimento com a mesma frieza com que colocamos dinheiro noutro banco porque ele nos diz que até paga mais. Não é necessário sequer que efectivamente pague, mas apenas que eu desfrute da intensidade de saber que tomei a opção de investir nalgum outro lado, porque aquele investimento simplesmente já não estava a render o que eu esperava...

Há que mudar, rápido. Assim nos tornámos, nós, commodities.

Vejo-o nas vossas caras, nas linhas desenhadas no vosso rosto, no tom de voz no metro ou no olhar de desespero e raiva com que são obrigados a justificar o injustificável. Ouço-o aos berros.

Digam-me, no vosso próximo investimento em que é que vão investir?

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