sábado, 26 de dezembro de 2009

A fábula da corça

Eu era para ir para outras pastagens. Todavia, por mero acaso, fiquei. Era verão e as notícias de uma doença inquietaram-me. Uma doença e outras coisas, pequenas. Fiquei.

Um dia de verão, conheci uma bela corça. Com ela fugi ao calor, com ela passeei e encontrei um céu feito de contas brilhantes e balires de outras raças. Um verão muito grande dentro de mim…nasceram lagos esplendorosos onde beber, árvores frondosas para nos aninharmos à sombra…partilhamos erva, recordações e sonhos. Partilhamos vida, pura.

Tu não eras uma corça nova, nem eu. Juntos todavia fizemos a utopia das corças jovens, o encontro de quem dá e constrói; presentes para o coração um do outro. Apenas porque nos alegrávamos de ver o outro a sorrir intensamente.
Eu procurava a erva mais doce e suculenta para ti, minha corça. Com o focinho listrado, empurrava-a na tua direcção, olhos presos no encantamento do teu olhar. Tu trazias-me a erva mais alta, que depositavas aos meus pés como se fosse oferta ao teu Deus.

Tinhas uma pequena corça, que nos acompanhava. À qual dávamos a erva mais doce, procurando protege-la e Ama-la. A vida passou e nós éramos idilicamente felizes.
Entretanto, chegou o inverno. Fruto de ti, fruto do frio do árctico, veio rajada imensa.

De repente, tu já não querias a erva que com tanto amor depositava aos teus pés. De repente, o calor dos teus olhos desvaneceu-se como se nunca tivesse existido. De repente, enquanto caminhávamos para as pastagens de inverno, duvidaste. A tua perna parou no tempo e nunca caiu a terminar o passo seguinte da nossa caminhada, as tuas narinas abriram-se a sorver o ar frio, que te transformou o coração.

Cada corça tem sua caminhada. Eu olhei-te um longo momento perdido…e iniciei de novo a caminhada para as pastagens de inverno. Tu sabes onde são. Sabes onde estou. Sabes tudo.

Sei que correrás atrás do que para ti for a verdade. Sei que a mãe natureza se encarregará de tudo e de nós. Desejo-te as mais verdes pastagens bela corça. Eu vou a caminho das minhas.

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