quarta-feira, 10 de março de 2010

Papel de embrulho

Faz uns dias, num certo bar começou uma fábula entre dois seres humanos, cheios de medo e vida para partilhar. Ela impassível, ele nervoso (como sempre). Sinceros, muito. Por várias mesas e um sofá passaram, comeram, beberam os olhos um do outro e escreveram coisas que não tinham coragem de dizer ainda. Esta é uma delas.

Papel de embrulho

Esta noite, finalmente vou conhecer-te. Vais interromper estas minhas palavras a qualquer momento e eu vou fingir-me surpreendido, quando na verdade já pensei neste momento hoje em casa. Um pequeno muro, baixinho daqueles que se vê em passeios pelo campo, que vais saltar sem sequer te aperceberes. A música francesa ressoa, as pessoas falam e os talheres dançam valsas cintilantes, por entre bules vaporosos, qual caldeiras temporariamente adormecidas...

Abstraio-me, o silêncio de uma alma que vai ver o invólucro de outra é necessário, o momento de meditação é necessário. Estou sozinho e o espaço é belo, sim.
Todavia na verdade tanto se me faz. Vem rápido, vem rápido, invento ladaínha nova em língua de velhos, como as palavras em cantar arrastado de ceifeira antiga, o sussurrar ao feno do amor ido em França...vem rápido, vem rápido!

Não sei o que vou comer, se te vou comer ou se quero antes que me comas, ás dentadas...aos beijos longos, a tua mão...Vou parar agora, já estou com um formigueiro na barriga, mas na verdade é o meu coração que se agita...

Quero tanto provar o teu chocolate!

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