domingo, 6 de fevereiro de 2011

Poeira

Irmão, as vezes olho à volta e penso que sou único. Que sou o melhor, que vejo coisas que mais ninguém vê ou sente, que qual salmão a saltar pela vida no imenso rio, vocês todos nadam enquanto que vos vejo de cima. O rio porém é fortuito e nas águas cristalinas aprendi que ás vezes é exactamente o contrário, qual espelho. Vocês todos vêm, vocês todos sentem ou pelo menos têm a capacidade de; mas escolheram não o fazer. Alguém vos disse que não eram capazes, que eram menores e...vocês acreditaram.

Não me vou carpir e desesperar por um porquê que somente a cada de um de vós toca e apenas cada um consegue na verdade, responder.

Não sou colector estatístico de estados de alma ou sentimentos obscuros que tenho dificuldade em classificar, não existe em mim a energia para ser Deus de ti, mas apenas de mim e acredita quando te digo que já habita em mim um anão, que carrega um gigante muito grande.

Sei todavia com todo o tutano que habita estes ossos, com toda a força evolucionaria que a inteligência me faz ter, que perecerás. Que vais morrer, sem apelo nem agravo. Eu sei, todos vamos um dia. E...que fizeste tu, que de uma massa biológica disforme vieste, para te achares feito Deus da poeira das estrelas? O que fizeste para de repente pensares que efectivamente podias simplesmente existir, sem prestar homenagem mínima a esse caos que te pariu e te fez único? Fantástico? Absolutamente mágico?

O tempo escorre-te violentamente pelas mãos qual areia muito fina e todavia tu sopras na tua mão, como se estivesse suja...do espelho da iniquidade com que te tratas já nasceram todos os demónios que te hão-de destruir, foste tu que os alimentaste e lhes deste carinho...

Tu nasceste com toda a promessa de voltares a ser poeira, magnifica, cintilante!

De que precisas para simplesmente o ser?

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